Será que existe desenvolvimento na idade adulta e na velhice?

Resumo:
Cada estádio do desenvolvimento humano é uma estrutura com características próprias que não são estanques porque influenciam as que se seguem.
Depois da adolescência, o indivíduo entra na idade adulta (ou adultez), fase em que integra características evolutivas especiais sendo o resultado da interacção entre as competências sociais, emocionais e interpessoais.
Visto que, actualmente, a esperança de vida é cada vez maior, diversos estudos têm focalizado as investigações na velhice tentando desconstruir mitos e preconceitos a nível cognitivo e psicossocial.

Palavras-chave:
Ciclo de vida; Generatividade; Estagnação; Andropausa; Menopausa;  Ninho vazio(Empty nest); Aprendizagem; Velhice, Integridade; Desespero; Morte; Reforma; Desenvolvimento

Introdução:
O desenvolvimento humano centrou-se no estudo da infância e adolescência não privilegiando as restantes fases da vida do indivíduo.
Só recentemente é que Erikson (1976) apresentou a evolução humana segundo estádios, vindo a contribuir para que hoje o desenvolvimento seja perspectivado desde o nascimento até à morte.
É neste enquadramento que surgem a Idade adulta e a velhice como fases em que o indivíduo toma consciência das suas transformações físicas e cognitivas.

A fase da idade adulta no desenvolvimento do ser humano:
Actualmente, existem múltiplos conceitos, teorias e modelos relativos à idade adulta do desenvolvimento humano, mas não podemos esquecer a contribuição de Hoffman, Paris & Man (1994): “ser adulto é fazer parte de um grupo que se desenvolve em torno dos conceitos de responsabilidade e assertividade”.
A perspectiva do ciclo de vida (life-span), surge nos anos 70 do século XX, e considera que a fase adulta integra características evolutivas específicas e uma génese própria (Marchand, 2001) focalizando o seu estudo nas competências adquiridas ao longo da vida.
A perspectiva psicossocial, de Erikson (1976), considera que a adultez situa-se entre os 30 e os 60 anos do individuo. Nesta fase o indivíduo confronta-se com a crise da generatividade (Desenvolvimento das suas potencialidades pessoais, interpessoais e profissionais) em contraponto com a estagnação (focalização nos próprios interesses). Desta crise emergem duas virtudes básicas: o cuidado e a produção (Tavares, 2007, p. 92).
Na perspectiva de Levinson (1978) a transição para a fase adulta ocorre entre os 40 e 45, quando o adulto tende a reavaliar a sua vida e os seus objectivos. Passado este período, por volta dos 55 anos, surge a fase da estabilidade onde o indivíduo começa a reconstruir a sua vida baseada em novas decisões e objectivos, procurando um novo período de realização pessoal.
Na fase adulta o desenvolvimento caracteriza-se pelas seguintes características:
Mudanças fisiológicas: O indivíduo vivência mudanças que irão influenciar o seu desenvolvimento, nomeadamente por causa da menopausa e andropausa.
Relacionamento conjugal:  nesta fase verificam-se mudanças na estrutura familiar, como o “ninho vazio”(Empty nest) – período após a saída dos filhos de casa, que obriga a uma restruturação da família, podendo mesmo levar à rotura desta, quando envolve questões emocionais, profissionais , etc. (Tavares, 2007, p. 94).
Relacionamento com os idosos: O indivíduo pode encontrar-se numa situação de apoio simultâneo a duas gerações, os seus pais e os filhos. Nesta fase os pais encontram-se numa fase de desenvolvimento em que necessitam de mais atenção e cuidados tornando-se dependentes. Estas situações podem originar alguma tensão, necessidades de restruturação da família e, sobretudo, novas experiências emocionais. 
Actividade profissional: Na fase adulta, o investimento do adulto diminui, e a ocupação profissional deixa de ter a importância estratégica que tinha aos 30 anos.
Em muitos casos, o adulto transmite os conhecimentos profissionais a colegas mais jovens.
Quando chega à idade adulta o indivíduo tem tendência a analisar o seu percurso profissional verificando que muitos dos seus sonhos jamais serão realizados, o que pode levar ao abandono do local de trabalho, interfere com a sua auto-estima, origina depressões e até suicídios. (Tavares, 2007, p. 95).
Crise de vida na fase adulta: Segundo Levinson et Al.(1978) e Gloud (1978) a transição para a idade adulta é acompanhada pela “crise de meia-idade”. Acontecimentos como o casamento, a saída de casa dos filhos, as mudanças profissionais, o fim da actividade profissional, a menopausa, entre outros podem levar a estados físicos e psicológicos de ansiedade.
No entanto, para Erikson(1976), esta crise não quer dizer que seja uma vivência negativa, mas pode ser essencial para o desenvolvimento do indivíduo.
O processo de aprendizagem na fase adulta: ao contrário do que se defendeu até à pouco tempo, a fase adulta “não é tardia para a aprendizagem e a ideia de estagnação do conhecimento é ilógica e infundada” (Tavares, 2007, p. 95).
Assim, os acontecimentos marcantes da vida do adulto, profissionais e familiares, podem incrementar novas aprendizagens e provocar novas transformações na vida. (Meriam & Clark, cit. em Tavares, 2007, p.95).
Outra perspectiva teórica, sobre a aprendizagem na fase adulta, centra-se nos conceitos-base: os objectivos, a aprendizagem e o desenvolvimento do indivíduo adulto (Canan, cit. em Tavares, 2007, p.96). Para esta teoria, na adultez a aprendizagem desenvolve-se através da aquisição de conhecimento, da experimentação activa e da tomada de consciência, permitindo que o indivíduo construa a sua identidade e evolução ao longo da vida.
Neste processo é essencial a motivação e o esforço do indivíduo para que se envolva na aprendizagem, premindo-lhe assim alcançar determinados objectivos/projectos de vida.

A fase da velhice no desenvolvimento do ser humano:
A sociedade actual ainda vê os idosos como um grupo de indivíduos com inúmeros défices e incapacidades, nos quais as aptidões físicas cognitivas e emocionais vão diminuindo.
No entanto, estas ideias estão longe de ser racionais e fundamentadas. Pois, se algumas capacidades se podem encontrar em processo de deterioração, muitas outras mantêm-se e até evoluem (Sánchez & Ulacia, cit. em Tavares, 2007, p.99).
“O envelhecimento é universal e inevitável; acontece em todos os sistemas orgânicos”,  (Tavares, 2007, p.99),  sendo que a maior parte das mudanças na aparência do individuo ocorrem nesta fase e começam a modificar-se outros, de forma mais acelerada, como os sentidos, os músculos, os ossos, a mobilidade  os órgãos internos.
Os vários problemas cognitivos, que aparecem na fase da velhice são reflexo da idade, mas também de factores como a depressão, a inactividade, os efeitos secundários da medicação, o isolamento social, a pobreza, a falta de motivação e de cuidados pessoais.
A nível da memória, a principal mudança acontece com a perda de processamento da memória de curto prazo, mas tal perda não acontece com tanta intensidade a nível da memória sensorial e de longo prazo. (Tavares, 2007, p. 100).
Esta fase também é acompanhada por uma perda na velocidade do processamento cognitivo e, por vezes, pela demência (estado de confusão e esquecimento irreversível).
No entanto, os idosos “utilizam mecanismos para gerir as perdas e ganhos vivenciados ao longo da velhice.” (Tavares, 2007, p.101). O modelo baseado no processo de optimização selectiva e compensação, desenvolvido por Blates(1993) defende que o idoso tende a equilibrar as perdas com outros ganhos, explicando algum bem-estar vivenciado por muitos indivíduos neste período.
Quanto ao desenvolvimento psicossocial Erikson(1976), caracteriza a velhice pelo conflito entre a integridade e o desespero. Quanto o idoso considera positivo o que viveu ao longo da vida está a experimentar um sentimento de integridade. Por outro lado, quando verifica que a sua vida está repleta de acontecimentos negativos e de perdas estará a desenvolver um sentimento de desespero.
Características do desenvolvimento na velhice:
A reforma:  para o indivíduo tratasse de uma mudança de status (profissional, social e económico). Não implica apenas ocupação dos tempos livres mas, também, “a adopção de novos papéis e a adaptação a uma nova realidade física, económica e social.” (Tavares, 2007, p. 102).
Relacionamentos Interpessoais: Na velhice dão-se muitas perdas de relações significativas, por causa de vários factores, que alteram as estruturas familiares e sociais do indivíduo.
A morte: O significado de “morte” depende do contexto cultural em que ocorre e os seus vários significados colectivos são processados através de símbolos e rituais (Craig, cit. em Tavares, 2007, p.103).
Pensamentos e receios associados à morte: Segundo Elizabet Kubler-Ross (1969) existem 5 fazes no processo de adaptação à ideia da morte: negação; raiva/ira; negociação; depressão e aceitação.
Nesta fase o indivíduo procede à revisão da sua vida, sendo um passo importante para a resolução de conflitos, para o estabelecimento do significado de vida e (re)descoberta de si próprio.
Conclusão:
É indiscutível que o desenvolvimento do ser humano é um processo contínuo, ao longo de toda a vida, e que não se concentra apenas nas primeiras décadas da vida, onde o crescimento do indivíduo sofre as maiores e mais visíveis transformações.
A idade adulta implica diversas mudanças multidimensionais e fisiológicas, como a menopausa e andropausa, que influênciam o desenvolvimento da mulher e do homem, respectivamente.
A dinâmica da actividade profissional e o relacionamento com os pais idosos e filhos jovens são outras mudanças estruturantes do processo de desenvolvimento humano na idade adulta.
A velhice, como fase de desenvolvimento humano, está muito longe de ser uma fase deteriorizante e irreversível. Deverá ser uma fase dedicada à análise do projecto de vida e uma redefinição de prioridades, valores e projectos futuros.

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